Dianópolis, Tocantins, cidade do ouro e tradições, cantada e recantada pelo contemporâneo, poeta e amigo José Alencar Costa Aires e por todos os filhos daquela boa terra. Cidade de gente retemperada nos revés da vida, em especial na educação escolar que contribuiu de forma inusitada na formação de incontáveis gerações; cidade de convívio social sadio, de gente pacífica, ordeira e cordial e se isso não bastasse, a natureza lhe empresta uma vista de cartão postal, descortinada pela imensa e bela Serra Geral, portal do Jalapão e que na minha infância e adolescência, fez-se testemunha dos meus sonhos e devaneios. Pois foi lá que nasci goiano e pela força da história e circunstâncias tornei-me tocantinense.
A despeito de todos os adjetivos acima inseridos, a minha terra natal está incrustada no antigo Nordeste de Goiás, denominado à época de corredor da miséria, em vista do abandono a que ficou relegada pelos políticos de plantão, que para lá se dirigiam apenas de quatro em quatro anos em épocas de eleições à caça de votos.
Mas existia um sonho maior, a esperança de ver criado o Estado do Tocantins, cuja área seria estabelecida acima do Paralelo 13, como de fato, anos depois aconteceu.
Desde o mês de julho de 1967, nos meus 17 para 18 anos, engajei-me e participei desse sonho de ver criado o nosso Estado e quando fui eleito, em votação aberta e democrática, Presidente da Seccional da CENOG – Casa do Estudante do Norte Goiano e que tinha como lema, bandeira e slogan expressados na frase: “Tudo pela redenção do Norte de Goiás”. E foi naquela ocasião que se realizou o último congresso daquela entidade.
A história encarregou-se do desenrolar dos fatos. Aliás, muitos outros acontecimentos que em outra oportunidade trarei ao conhecimento de tantos que não conhecem a verdadeira versão de como tudo ocorreu.
Criado o Tocantins através da Constituição de 1988, foi instalado em 1º de janeiro de 1989. Eleições livres e diretas, quando foi eleito como primeiro Governador, o Sr. José Wilson Siqueira Campos, político que conheci através do governador de Goiás à época, Leonino Di Ramos Caiado, com quem tive a honra e o privilégio de trabalhar e que acreditou num jovem nortista.
Com implantação do mais novo Estado do Brasil, minhas esperanças se renovaram e vislumbrei a realização dos sonhos de tantos jovens, assim como os meus. Ledo engano. Na formação da primeira equipe de governo, não consegui detectar nenhum daqueles que tanto lutaram pela causa, a despeito do preparo intelectual e profissional de tantos que conseguiram suas formações com muita luta e determinação. Foi quando mesmo convidado para participar da administração, em função do conhecimento que adquiri nos muitos anos de serviços na empresa de saneamento de Goiás, Saneago, decidi que não via motivos para ali estar quando tantos companheiros foram esquecidos.
Retornei para Goiás onde trabalhei, ainda, por muitos anos e só no ano de 2001 comecei a colaborar, novamente, na consolidação do Tocantins. Dediquei-me a estudar sobre Agências Reguladoras, órgãos recém-criados pelo Governo Federal, e por lá na Agência de Saneamento do Tocantins, também criada naquela época, quando aprofundei mais no assunto frequentando vários cursos inerentes àquela setor da administração, sem contar a pós-graduação em auditoria em saúde. Participei ativamente na consolidação da referida agência reguladora, tornando-me o responsável pela elaboração do arcabouço técnico/jurídico onde se assentam as decisões da hoje ATR – Agência Tocantinense de Regulação, sucessora da Agência de Saneamento – Agesan.
Ainda imbuído daquele espírito idealista, me vi mais preparado para sair dos bastidores e contribuir de forma mais efetiva com a consolidação do Estado dos meus sonhos. De novo ledo engano. Ao apresentar-me ao ex-companheiro de lutas pela mesma causa, Governador pela terceira vez, fui informado que para a formação dos quadros do primeiro escalão da administração a política falava mais alto.
Como não havia me preparado para participar de esquemas políticos enquanto cuidava da parte intelectual e aperfeiçoamento profissional, fui descartado de forma simples e peremptória. E aquele esquema político, para infelicidade mais uma vez do Tocantins, deu no que deu como todos sabem. Foi quando decidi retornar para residir em Goiânia, cidade que já havia me acolhido há 46 anos e que a transformei em minha segunda cidade natal, se é que isso seja possível.
Decidi deixar o Tocantins e voltar a ser goiano. Isto é, voltar às origens, literalmente, pois nasci goiano. Como é bom ter o privilégio de escolher o próprio gentílico!
Ao afastar-me do Tocantins, restou em mim uma centelha de esperança, pois ficou radicado em Palmas o meu filho primogênito, Leonardo Luiz Ludovico Póvoa. Escritor, cronista, poeta (já com dois livros premiados) e administrador de empresas e que implementou a primeira empresa no ramo de internet no território tocantinense.
Estudioso, aplicado e interessado na história e a quem transmiti e transmito sempre a versão dos verdadeiros fatos, por isso mesmo cônscio do papel que lhe cabe na história do Estado, dá continuidade aos meus sonhos.
Engajou-se no esporte, como presidente da Federação Tocantinense de Peteca tendo como companheiros Bruno Barreto Cezarino, Odon Pereira Oliveira, Pedro Carvalho Martins, Rogério Batista de Freitas, Ivan Ricardo (Ferpam), Roberto Ferraz, Ricardo Abalém, Francielle Nogueira Braga e Eduarda Maria Ibiapina, e de tantos outros atletas anônimos que têm levado o nome do Estado a outros rincões do Brasil, a despeito da falta de apoio dos órgãos oficiais, tantas vezes solicitado e nunca atendido. Juntamente com outros idealistas, que com esforços próprios já conseguiram levar o nome do Tocantins mais longe que todas as outras entidades esportivas existentes por lá.
Basta citar que cotizando entre eles, participaram de campeonatos nacionais realizados em Uberlândia – MG, São Paulo-SP e Goiânia-GO e puderam ver os esforços recompensados quando o uniforme que usavam ser escolhido como o mais bonito e moderno da competição. E, agora, esse mesmo jovem foi, pela segunda vez, agraciado com a medalha do mérito desportivo pelo tradicional e respeitável Clube Corinthians de São Paulo, pelos 84 anos da modalidade do esporte da peteca naquela entidade esportiva. E se isso não bastasse, até a bandeira do Estado que adquiriram com recursos próprios e que ficou de ser ressarcido pelos órgãos públicos, até hoje não aconteceu.
Não trouxeram, ainda, um troféu pela disputa nas competições, mas já foram e são premiados pela determinação, garra e ousadia em levar o nome do nosso Estado bem mais longe do que todos os órgãos e entidades responsáveis pelos esportes, tanto no âmbito do Estado como da Capital.
E, agora, que acompanho pela imprensa as possíveis irregularidades na aplicação do dinheiro destinado ao esporte por parte de entidades desconhecidas e que nada fizeram ou fazem em prol da coletividade e vendo e convivendo com esses abnegados jovens e alguns senhores de idade já consideráveis, treinando todas as quartas-feiras e sábados em praças públicas, com material adquirido com recursos próprios, só me vem uma certeza: incentivá-los e acreditar que um dia alcançarão a meta a ser atingida, qual seja, espalhar e implementar a modalidade do esporte da peteca em toda Capital e no Estado do Tocantins e diga-se de passagem, o mais popular em Minas Gerais, após o futebol.
Que este artigo sirva de alerta para as autoridades do Tocantins, responsáveis por essa área tão importante, em especial para a juventude, no sentido de se conceder atenção especial àqueles que com determinação e garra, buscam e nunca encontram o respaldo necessário por parte de quem tem a obrigação de apoiar e incentivar os esportes.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
José Cândido Póvoa – Poeta, escritor e advogado.